A economia brasileira começa a deixar o marasmo para trás. No segundo trimestre de 2017, o avanço do PIB foi de 0,2%, segundo dados divulgados na sexta-feira 1º pelo IBGE. Puxado pelo aumento do consumo das famílias e pelo setor de serviços, o resultado surpreendeu analistas e mostra que o processo de recuperação econômica pode ser mais rápido que o esperado. A expectativa é que setores como a indústria, que apresentou recuo neste trimestre, e a agricultura, que não apresentou variação, tenham resultados melhores nos próximos meses e levem o País ao final definitivo da recessão.
O destaque foi o aumento de 1,4% no consumo das famílias em relação ao trimestre passado. Trata-se da primeira alta do indicador desde o primeiro trimestre de 2014, quando o índice variou 1,6%. “Se houver uma sequência de resultados positivos, isso nos levará a rever a velocidade com que a economia está rodando”, afirma Emerson Marçal, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas. Para Otto Nogami, professor de economia do Insper, o crescimento é resultado de uma iniciativa bem-sucedida do governo: a liberação do saque das contas inativas do FGTS. A queda da inflação e da taxa básica de juros, a Selic, também contribuíram para o melhor desempenho. “É um resultado importante porque o consumo das famílias chega a representar mais de 60% na composição do PIB.”
Se as empresas de serviços dão sinais de otimismo, na indústria o cenário ainda preocupa. Depois de crescer 0,7% no primeiro trimestre do ano, o setor recuou 0,5% no segundo. A queda foi puxada pela construção civil, que encolheu 2% no trimestre. “Não vemos perspectiva de recuperação, principalmente em função do excesso de oferta de residências”, diz Nogami. “O lançamento de empreendimentos deve ser reduzido, e há também o impacto da Lava Jato sobre as obras de infraestrutura.” Mesmo assim, a indústria pode melhorar nos próximos trimestres com a aproximação das vendas do final do ano, que devem ter impacto positivo nas áreas de transformação e energia. “A recuperação da economia mundial também pode melhorar as exportações de minério de ferro e trazer um resultado positivo”, diz o professor do Insper.
Além da alta do PIB, os últimos dias trouxeram outra boa notícia: o desemprego está sendo combatido. A taxa de desocupação caiu para 12,8% no trimestre encerrado em julho. Isso significa que mais de 1,4 milhão de brasileiros encontraram trabalho. É consenso entre os economistas que esse deve ser o último indicador a melhorar. “Se tudo der certo, veremos o índice abaixo dos 10% no final de 2018”, afirma Marçal. “O segundo semestre sempre tende a ter uma leve recuperação em termos de mercado de trabalho”, reforça Nogami.
Otimismo para 2018
Os economistas esperam que o resultado acumulado do PIB em 2017 seja ligeiramente positivo, mas não descartam a possibilidade de um desempenho levemente negativo. O governo estima um crescimento de 0,5% neste ano e de 2% em 2018. “Se houver revisão, a chance é de ser para cima”, diz Marçal. “Não devemos ter surpresas desagradáveis.” Lembre-se que o próximo presidente terá a dura missão de enfrentar questões como reforma da previdência, privatizações e abertura econômica. A importância da continuidade da política econômica é essencial para garantir os bons resultados. “No curto prazo, com certeza paramos de cair, e a longo prazo a recuperação talvez seja um pouco mais rápida do que a gente estava esperando”, afirma Marçal.
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